quarta-feira, 22 de junho de 2011

20/06/2011




Então você pensa que é um dia comum, uma noite de domingo como outra qualquer, reclamando que no outro dia é segunda-feira e tem que trabalhar. De repente sua noite de domingo muda. Agitação, correria, hospital, espera, e a notícia que vai mudar toda a sua vida e fazer seu mundo cair.
Os últimos meses foram maravilhosos e tristes, embora isso possa soar um pouco incoerente. Mas o que tem de coerente na morte não é? Quando descobrimos o diagnóstico foi uma dor muito grande, uma surpresa e uma certeza: tínhamos pouco tempo pra aproveitar ao máximo a presença dele. E aproveitamos. É muito bom não ter arrependimento e culpa (que é comum sentir nesses momentos), mas aqui em casa não temos motivos pra remoer nada. Aproveitamos, demos carinho, tudo o que podíamos fazer, fizemos. Creio que meu pai foi muito feliz nos seus últimos meses de vida e é isso o que me deixa com o coração em paz.
Meu pai era um homem maravilhoso, autêntico, alegre, brincalhão, o centro das atenções. Eu não conheço uma pessoa que não gostasse dele. Era um homem muito inteligente e tinha uma cultura que impressionava. Ele se foi muito cedo e vai deixar uma saudade que é impossível descrever.
Não é fácil voltar pra casa, ver suas roupas, seus sapatos, e saber que eles não irão mais vesti-lo. Não é fácil olhar pro seu lugar vazio no sofá e saber que posso assistir o canal que eu quiser na TV porque não tenho mais você pra brigar comigo pelo controle remoto, como duas crianças. Dói saber que não vou mais escutar sua voz cantando "Sunshine on my shoulders", ou ver sua carinha de felicidade toda vez que eu trazia pra casa a comida que você gostava. E é pior ainda saber que não vou mais ganhar seu sorriso e seu beijo toda vez que eu abrir a porta da sala, chegando do trabalho e escutar "Ei meu tesouro".
Embora a gente tenha a sensação do nunca mais, sei que não acabou aqui. Um dia a gente vai se ver de novo, e ele vai olhar por nós de onde ele estiver.
Tenho muito orgulho do homem, do marido e do pai que ele foi.
Pai, meu tesouro, eu te amo demais!!




"Imagine que você está a beira mar e vê um navio partindo. Você fica olhando, enquanto ele vai se afastando, cada vez mais longe, até que finalmente parece apenas um ponto no horizonte. E você diz: 'ELE SE FOI.' Foi onde? Foi a um lugar que a sua visão não alcança. Só isto. Ele continua tão grande, tão bonito e tão importante como era quando estava perto de você. A dimensão diminuída está em você, no alcance dos seus olhos e não nos dele. E naquele exato momento em que você está dizendo: 'ELE SE FOI', outros o estão vendo se aproximar e outras vozes estão exclamando: 'ELE ESTÁ CHEGANDO!!'"

5 comentários:

Thaís Alves disse...

Vicky, o seu texto é lindo, e claro aqui estou chorando após a leitura. Acho que esta candura das tuas palavras é o mais forte nele. É bem verdade que a saudade é doída neste caso, e eu te garanto por experiência própria que nem a saudade e nem a lembrança ficam mais suaves com o passar do tempo. Algumas vezes doem mais, outras menos, dependendo de cada momento em nossas vidas. Mas o bom disso tudo é saber que esta pessoa especial, o seu pai, o seu amigo, será sempre uma presença na sua vida, que vai muito além de sangue ou dna, mas de cada momento compartilhado, cada conhecimento partilhado, cada experiência vivida. E isso é algo que nada pode levar, nem mesmo a morte. E o que é a morte, senão uma extensão da vida em outro plano? Também acredito nisso, por tanto motivos, que não estou aqui dizendo nada apenas com o intuito de te confortar, até porque as suas palavras, apesar de demonstrarem a tristeza do momento, também foram de muita maturidade e serenidade. Que você mantenha esta postura no decorrer da sua vida, e que sinta cada coisa que ele deixou como uma benção e não como uma pesarosa lembrança. A saudade fica, mas a dor vai indo embora, e dando lugar ao verdadeiro sentimento que cada lembrança deve ter. Se um dia precisar conversar, estou por aqui, online. Um beijo!

Anônimo disse...

É amiga... a ficha custa a cair sobre isso. O tio Zé era um máximo e eu adorava ser o "tesourinho" dele tbm... sempre me tratou como uma filha, e não consigo lembrar dele doente, graças à Deus! A imagem que me vem sempre é aquela risada alta, cheia de dentes, falando "ah nem"...

"ah nem" vc se foi... =(

amo vc e sua família, estou aqui sempre para o que vc precisar. Beijos!

Lucas disse...

Linda foto. Me lembro bem deste dia. Lembrança esta que ficará como outras tantas, de momentos maravilhosos nas vidas de todos nós. O privilégio de tê-lo como figura paterna compensa a dor da da ida, que aos poucos sei que se transformará na total beleza da saudade. Zé Luiz, o amigo, o pai, o irmão, o atleticano fanático, estará sempre em nossos corações. À vocês, Vick, Kátia e Enrique, digo que estou com vocês, para o que der e vier, sempre. Ao nosso grande amigo, digo "PNTC"(No lado positivo), pois sei sua ida foi assim, com esta "Paz no Coração".
Amo todos vocês, eternamente!

Moísa Vilas Boas disse...

Sei que não nos conhecemos, mas sempre dava uma olhadinha no seu Twitter por causa das suas frases interessantes, ácidas e até mesmo engraçadas. Gosto do que vc escreve, acabo me identificando um pouco. E na segunda-feira ao ler "Caramba, como eu vou sentir saudades...e como eu vou detestar o dia dos pais esse ano.. =,(", percebi o que havia acontecido e na mesma hora me deu um aperto no peito.. e fiquei me imaginando na situação. O que seria de mim sem meu pai.
Fica aqui os meus sentimentos. Sei que nenhuma palavra é capaz de confortar, ou ocupar esse vazio.
Espero que fique bem e que siga sua vida com toda alegria, lembrando sempre que ele estará te protegendo e iluminando sempre.

Carol Ornellas disse...

Por mais que eu esteja atrasada, estou aqui. Precisava lhe dizer isso.
<3