E mais uma vez eu quebrei as promessas
que fiz a mim mesma, mais uma vez eu cedi à tentação de te ressuscitar,
mais uma vez eu me fiz sua e mais uma vez eu quebrei a cara.
Não me leve a mal, eu não me arrependo
de nada pra falar a verdade. Eu não tenho juízo mesmo, nem vergonha na cara.
Mas a ressaca sempre vem destruindo o organismo e os pensamentos.
Eu sabia o que ia acontecer quando te
chamei pra sair, eu sabia o que ia acontecer quando a gente acabou com aquela
garrafa de tequila e foi parar na sua casa, eu não sou inocente, nunca disse
que era. Mas o que iria acontecer depois, eu não sabia. Ou melhor, sabia, mas
não queria admitir, claro. Sou ótima em mentir pra mim mesma, sou ótima em
criar falsas expectativas e achar que tudo vai mudar. Mas, como eu já disse, a
vida não é um roteiro de comédia romântica, e você não mudou de ideia como os
mocinhos das histórias sempre mudam no final.
O que eu não entendo - e acho que nunca
vou entender - é o que acontece com você quando estamos juntos. Me fazendo cafuné,
me puxando pra mais perto, me dizendo que sou linda e como é bom ficarmos ali,
deitados, juntos, só. Em um minuto me adorando e querendo que o tempo parasse
ali, e no próximo querendo que eu vá embora da sua vida, por favor.
Tem muita coisa em relação aquela noite
que ainda é só um emaranhado de lembranças(culpa da garrafa de tequila), mas eu
me lembro bem da manhã - ou melhor, tarde - seguinte, e me lembro bem de me
despedir de você, sem conversa, sem "a gente se vê" ou "essa foi
a última vez", só com um beijo sem jeito. De ouvir o barulho da porta se
fechando antes que eu tivesse alcançado o elevador, de você me ver indo embora
e não ter feito nada. Não vou negar, parte de mim - e uma parte bem grande -
queria que você abrisse aquela porta, me puxasse pelo braço e me pedisse pra
nunca mais ir embora. Chega a ser engraçado de tão ridículo e clichê, mas eu
queria. E é lógico que você não fez nada disso. E enquanto eu subia a rua, de
salto alto, ainda maquiada, procurando um cigarro e descumprindo - outra vez -
minha promessa de parar de fumar, eu percebi que nunca iria mudar, nunca iria
acontecer, nunca passaria daquilo.
E talvez tenha sido melhor a gente não
ter conversado sobre o que aconteceu, a gente conversa demais e é isso que
atrapalha. E eu tomaria a culpa num gole, mas hoje a darei de presente a você,
porque eu simplesmente cansei de assumir toda a responsabilidade dos nossos
erros.
Entrei em um taxi e voltei pra casa ao
som de exaltasamba, porque claro, a vida adora debochar da minha cara.
“E eu, que fico à flor da pele sem querer, eu tenho um coração vulcânico. E sempre acabo errada.”
4 comentários:
Tem tantas palavras passando pela minha cabeça agora que está muito difícil ordená-las num pensamento claro e objetivo.
E, nesse emaranhado de palavras, pensamentos e sentimentos, a única coisa que fica óbvia pra mim é que o "desastre" que acontece contigo aprimora sua qualidade literária.
Quero te dar um abraço pelo texto digno de ser publicado num jornal de domingo, e uma sacolejada pelo que aconteceu...
Será mesmo erro quando a gente erra conscientemente?
Eu acho que não.
E realmente, como diz o comentário acima, sua destreza com as palavras aflora e nos faz admirar seu texto.
Beijo
Complicado..cada acontecimento " trágico" um texto primoroso !!! Consciente ou não o importante e vivenciar....te adimiro muito por isso vick, dentre "burradas" e promessas quebradas vc vive, e vive viceralmente...se ele não disse ou fez o q vc queria ( q mulher não passou por isso e se sentiu a pior pessoa do mundo) nao retira em nada sua incrível leveza de ser aquilo que vc é ...te admiro mil vezes...bjos
Poxa, acho que de fato a dor deve ser sentida.
Acho que quando gostamos nos permitimos. Mesmo que isso nos faça sofrer.
E tem o lado bom dessa história. Ela realmente esta sendo escrita e com muita sofisticação.
Parabéns.
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